fundo

Quando aceitamos o que recebemos, vivemos melhor. Quando as adversidades nos ensinam a nadar, atravessamos o mar. Quando as barreiras dizem que não podemos e não somos capazes, podemos nos redobrar de forças e vencer os obstáculos .

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O Salvador Inesperado



 Era uma jovem artista, diferente...
 Contava apenas quinze primaveras,
 Mas atraía em muita gente
 Interesse, atenção, bondade, simpatia.
 Sabia interpretar mensagens de alegria
 E enriquecer canções
 Que o público
 Aplaudia em palmas e ovações.
 Mas, em casa, essa jovem
 Tomava outra figura,
 Parecia uma fera caprichosa!
 Trazia exteriormente a beleza da rosa
 E por dentro de si todo um arsenal de espinhos.

 O pai, viúvo e só, notava isso
 E ao ver a filha única, vaidosa,
 Ele, humilde operário, agarrado ao serviço,
 Começou a beber, buscando o esquecimento;
 Lamentava a viuvez, a dor, o desalento...

 E, ao estragar-se, um dia,
 Ouviu a filha, em dura rebeldia,
 A expulsá-lo do lar:
- Vá-se embora daqui - disse a filha a gritar.
 O senhor já não manda nesta casa,
 Um pai bêbado é nódoa para mim;
 A tolerância sempre chega ao fim...
 O seu vício me arrasa,
 Saia, saia daqui, seu lugar é na rua!...
 O pobre pai mal pôde levantar-se,
 Mas ergue-se, recua,
 E vai cambaleando na calçada,
 Enquanto a filha tranca a porta
 E vai dormir mal-humorada.

 Seis anos transcorreram sobre a cena;
 A menina fizera-se famosa.
 No circo de alto luxo, ela domina...
 Parecia, um trapézio, uma estrela divina
 Ou borboleta humana, bailando soberana.
 Era a dona dos prêmios e era vista
 Por beleza sem par e modelo de artista.

 Veio uma grande noite. Aplausos. Alegria.
 A platéia delira e a multidão das palmas,
 O número da moça é quase que magia.
 Há espanto nos olhos, êxtase nas almas...
 O trapézio voava, ela saltava e ria,
 De corpo seminu, em leve fantasia.

 Nisso ocorre um imprevisto, ante a platéia atenta,
 Surge um curto-circuito e faísca violenta
 Ateia fogo em cima e arrasam-se estruturas.
 A jovem trapezista atrapalha-se
 E agarra uma viga de amarra
 Que fica nas alturas...
 Ela, a estrela da equipe, a moça bela e forte,
 Grita e roga socorro, ao conhecer-se
 Em presença da morte.

 O incêndio desata, o circo se esvazia,
 A jovem grita, grita e ninguém a escuta;
 A multidão de longe apenas segue
 Os detalhes cruéis daquela imensa luta,
 Mas um velho palhaço, um canastrão de arena,
 Vara o fogo e se eleva, em corda frágil;
 Eis que o povo lhe exalta a coragem serena...
 Certa viga, ao cair, espanca-lhe a cabeça,
 Ele, porém, não pára e, ante a fumaça espessa,
 Alcança a moça aflita e, tomando-a nos braços,
 Desce, devagarinho,
 Procurando caminho,
 Nos bancos chamejantes, em pedaços...

 Mas, ao depor no chão a moça linda e salva,
 Ela sorri feliz...
 O povo aplaude, prazenteiro,
 Entretanto,
 Cai exausto o truão do picadeiro,
 Tomba mostrando a boca, em larga flor de sangue;
 Era uma chaga só aquele corpo exangue.
 Arfa-lhe o peito enorme, a morte se aproxima.
 Alguém chega e o reanima;
 É um velho amigo que reaparecera
 E que lhe arranca a máscara de cera...
 O povo se aglomera... Ante a cera que cai,
 A moça empalidece,
 Ajoelha-se e grita, como em prece:
- Meu deus, ele é meu pai!...

 E ele nela fixando o olhar que se despede e brilha,
 Num resto de calor e de ternura,
 Tão-somente murmura:
- Deus te guarde e abençoe
 Filha do coração, meu amor, minha filha!...
  pelo Espírito Maria Dolores - Do livro: Momentos de Ouro, Médium: Francisco Cândido Xavier.


 

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