fundo

Quando aceitamos o que recebemos, vivemos melhor. Quando as adversidades nos ensinam a nadar, atravessamos o mar. Quando as barreiras dizem que não podemos e não somos capazes, podemos nos redobrar de forças e vencer os obstáculos .

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Retirar os Remos da Água




Nada na Terra pode vencer o homem flexível, pois tudo pode conseguir aquele que não oferece resistência. A propósito, a maioria das coisas muito duras tem grande propensão para quebrar.

Dizem as tradições orientais que a água é o mais poderoso dos elementos, porque é a excelência no mais alto grau da “não-resistência”. Ela pode desgastar uma rocha e arrasar tudo à sua frente. Ao mesmo tempo, quando encontra uma pedra pelo caminho, não fica irritadiça, contorna os obstáculos; e, se pressionada por algum motivo, comprime-se o quanto quer.

Não fica lá, parada, censurando, pois não vê nenhuma vantagem em perder tempo e energia por causa de um incidente natural. A água se desvia da pedra e segue normalmente seu curso. Por que se estressaria coma ordem regular das coisas?

As águas de um rio vão para o oceano, para o grandioso. É para isso que ela está em andamento. Isso é que importa. Os detritos são entraves característicos do caminho. Se a água combatesse os pedregulhos, as grandes pedras, árvores submersas, terreno em declive, ela se consumiria desnecessariamente e, por consequência, retardaria sua chegada ao mar.

A correnteza ficaria intoxicada pelo mau humor e contaminada pelos ressentimentos, maculada de amarguras por todas as adversidades encontradas no leito fluvial.

Assim como o curso natural do rio tem como desígnio levar suas águas para a imensidade do oceano, nós igualmente temos um ministério a cumprir. Se ficarmos inflexíveis, resistindo e nos envolvendo com cada um dos pequenos contratempos do cotidiano, isso só vai redundar em impedimento para cumprirmos a tarefa evolutiva de nossa existência.

O que mantém o dinamismo da vida na água é o fluxo da correnteza. O movimento contínuo sustenta a vida ativa, não deixando que ela se altere substancialmente. O curso fluvial de um rio é que sustenta a vida nele.

Diz o caniço ao carvalho: “Não se preocupe com a minha suposta fragilidade. Você se engana com ela. Por trás dessa aparência delicada existe, em essência, uma força que me faz ser forte e auto-suficiente. Eu sou flexível. Eu me curvo, se preciso for, mas não quebro. Na verdade, os ventos são mais perigosos para você do que para mim.”

Os antigos sábios perceberam que no fato do bem viver o que impera é a flexibilidade, tal como faz a água, o melhor modelo de fluxo da Natureza. Durante as estações do ano, o que percebemos é seu movimento contínuo em todas as suas manifestações: rios, lençóis freáticos, lagos, mares, neve, degelo, nuvens e evaporação.

Se a vida é transformação, variação, ciclo e impermanência, o que rege a existência humana também são as oscilações sucessivas e flexíveis que obedecem a uma Ordem Providencial. É bom lembrarmos que as almas mais fortes são as mais maleáveis, abertas a mudanças e a novas informações.

Somos membros do Universo em contínuo evolução e precisamos aprender a nos adaptar e a nos ajustar a uma visão de mundo passível de transformações, reciclando pensamentos, crenças e idéias, fazendo novas interpretações das circunstâncias e das ocorrências do cotidiano. Não devemos ser homens automatizados. Onde não há liberdade para se questionar, não há ética.

Quantas vezes a maneira rígida de pensar ilude o “homem carvalho”, “de bom coração, porém superficial em seus julgamentos” fazendo-o acreditar que possui uma força indestrutível como a árvore desta fábula, mas diante das tempestades existenciais “tenta a todo custo manter-se em pé; (...) se julgava alto como as montanhas do Cáucaso e capaz de suportar os violentos temporais, não resiste. E o vento fica mais violento e arranca aquele cuja cabeça era vizinha do céu (...)”.

Nossa alma terá firmeza e vigor diante das intempéries se conseguirmos manter a mesma flexibilidade do “caniço”, prontos a ceder diante das renovações, reformulando planos, admitindo novas opiniões, aderindo a convicções baseadas em provas incontestáveis, fazendo associações prazerosas e estimulantes; angariando, assim, energias que fortalecem e alimentam o próprio espírito.

“Fluir” não quer dizer somente “passar por”, “deixar-se conduzir”, “percorrer distância”, “circular com rapidez”. O fluxo ao qual nos referimos é muito mais do que isso. Na verdade, falamos da ritmicidade cósmica que comanda o Universo e que mantém tudo em perfeita ordem.

Não existe o caos. Em todas as coisas reina um ciclo, um propósito ou trajetória em completa harmonia. Às vezes, temos a impressão de que a desordem e a confusão mental invadem nosso reino interior, mas, se olharmos num nível mais profundo, perceberemos que tudo está em plena concordância. A dureza, a agitação e o tumulto provêm da postura ególatra da visão humana.

De modo geral, as pessoas, resistentes, podem estar sendo assaltadas por fortes imagens mentais de situações de inflexibilidade vividas no lar. Quando uma criatura associa um fato recente a uma situação registrada anteriormente (ainda que não se dê conta disso), seus sentimentos agem imediatamente como se ela estivesse vivenciando o próprio fato precedente.

O antigo ditado “Tal pai, tal filho”, utilizado comumente para justificar qualquer tipo de escolha de um indivíduo que se revela afortunado ou mal-sucedido, vincula erros e hábitos, virtudes e vícios a um padrão familiar, imutável e inflexível. É uma generalização que confirma e explica as ações dos pais e dos filhos, para o bem ou para o mal.

Existe uma ponte entre hábitos e generalizações. A existência humana nada mais é do que uma textura de hábitos. Hábitos do pretérito somados aos do presente. Evidentemente, nossa forma costumeira de ser, fazer, sentir, individual ou coletivamente, é produto de nossas vivências associadas às mais diversas motivações. Elas determinam ao comportamento uma intensidade, uma direção determinada ou uma forma de desenvolvimento individual da criatura.

Entretanto, não devemos nos esquecer de que na infância poderemos formatar novos padrões de comportamento, alicerçados em hábitos adquiridos em outras existências. Os regulamentos e preceitos impostos pelos pais influenciam no desenvolvimento psicossocial dos filhos.

A criança precisa do afeto real, não de cobranças. De um sentimento intenso, consistente, suave, tranqüilo, sem arrebatamento exagerados e momentâneos, mas sim, freqüentes e duradouros.

Uma simples palavra de incentivo, um sorriso de aprovação, um olhar de encorajamento funcionam como um fermento magnífico que os pais podem e devem dar aos filhos.

Crianças que nunca são elogiadas se desenvolvem com certa dose de frustração, desapontamento, decepção, inibição e com baixa estima.

Os adultos devem aprender a aceitar os filhos como são e não formar modelos inatingíveis, desumanizá-los, julgando-os como super-homens ou tentando enquadrá-los a um padrão idealizado.

Indivíduos intransigentes são como investigadores que se apegam apenas a uma pequena parte de um todo como resultado final sobre a questão que estão tentando decifrar. E quando outras evidências são encontradas , eles as alteram para que se encaixem impecavelmente em suas conclusões precoces.

Em contrapartida, as criaturas flexíveis formulam estimativas de importância e de valor relativos até que se prove o contrário, ou seja, reconsideram e revisam de forma permanente seus pontos de vista a fim de alcançarem verdadeiramente os fatos reais.







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